segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Efeitos colaterais








Nem o melhor remédio do mundo 
fará efeito se você não o tomar. 

(Ben Stiller)







No inicio do mês de novembro, estarei completando oito meses de uso do Refib. Serão nada mais, nada menos, que 81 injeções que terei me autoaplicado em vários lugares do meu corpo. 
Terão sido 81 picadas.... 81 hematomas.... 81 dias de apreensão acerca das reações que as injeções me causariam.
A bem da verdade, essa apreensão começou assim que recebi o diagnóstico de Esclerose Múltipla e soube que necessitaria fazer uso do Rebif por tempo indeterminado. Foram dois meses de ansiedade, dúvidas, questionamentos, medo, solidão, dor e revolta.
Foi um período em que o choro rolou solto, em que as palavras ficaram presas na garganta e que o medo se fez presente como um fantasma a me rondar. Foram noites mal dormidas, dias longos demais e dúvidas que fervilhavam em minha mente sem cessar. Questionamentos interiores, autoanálise e reflexões acerca do futuro fizeram-se mais latentes nessa hora.
Foram dois meses entre o diagnóstico e o início do tratamento que pareceram durar duas décadas. A espera foi dolorosa, foi cercada de expectativas negativas, foi angustiante, na melhor acepção do termo.
Porém, por mais que o tempo tenha se arrastado a espera da chegada do medicamento, o dia da primeira aplicação chegou. Veio envolto em mistérios, em falta de coragem de apertar o gatilho do aplicador, em medo das reações ao medicamento, enfim, tudo o que remoí durante os dias em que esperei pela primeira picada, transbordou de dentro de mim e se extenuou na forma de um choro contido e de uma angústia velada.
E eis que  no dia 02 de abril de 2012, às 23 h, após um treinamento ministrado pela enfermeira do laboratório fabricante do Rebif e muitos minutos de hesitação, disparei o gatilho do aplicador contra meu braço esquerdo. Ouvi o clique. Senti a picada da agulha. Ouvi o barulho do líquido entrando em minha carne. Senti a dor dele se espalhando. Contei até dez vagarosamente. Tirei o aplicador. Pressionei o algodão sobre as poucas gotas de sangue que saíram da minha pele. E, chorei.
Chorei de alívio? Talvez. 
Chorei de medo da noite que estava por vir? Com certeza.
E o meu medo, minhas inseguranças, minhas expectativas negativas se mostraram bem reais, pois, mesmo tendo tomado um medicamento antes para diminuir os efeitos colaterais, eles vieram, em comboio, todos juntos, unidos, com toda a força.
Tive febre, o nariz congestionou, minha cabeça parecia uma bomba prestes a explodir.
No outro dia, a fadiga se aproveitou do meu corpo fragilizado e resolveu tomar posse dele também. 
Ah! como foi difícil aquele dia! Parecia mesmo que havia sido atropelada por um trator, daqueles tipo esteira, de tanto que meu corpo doeu e a fadiga me extenuou.
Depois da primeira aplicação, confesso que os temores aumentaram. Agora, os efeitos colaterais que tanto me assustaram durante a espera, tornaram-se reais. Eles não eram apenas fictícios mais, não eram apenas uma possibilidade, pelo contrário, eles vieram na forma mais palpável que poderiam se manifestar, eles se materializaram no meu corpo.
Porém, com o tempo, o fantasma foi sendo redimensionado dentro da minha mente. Foi diminuindo de tamanho, sua cara foi ficando menos tenebrosa e já não me assustava tanto.
Não vou dizer que os efeitos colaterais desapareceram por completo, isso não, porém, eles deixaram de ser tão unidos, deixaram de andar em carreata, agora, é cada um por si, um dia vem um, no outro vem o outro, depois vem outro ainda e, assim, quase sempre se revesam,dando uma trégua para uma boa parte de mim.
Hoje, posso dizer, que apertar o gatilho do aplicador passou a fazer parte da minha rotina. Acabou a ansiedade. Acabaram as expectativas ruins. Acabaram-se os medos. O Rebif está atrelado a mim agora. Ainda me causa algumas dores, mas, muito menores do que no começo quando ainda me estranhava e, portanto, nossa relação era tensa por demais. Agora, conseguimos nos entender, sabemos coisas um do outro, ficamos íntimos mesmo. Assim, vamos convivendo, pacificamente, na maior parte dos nossos dias.

Um beijo sem nenhum efeito colateral que não seja muito carinho...


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